quinta-feira, 21 de junho de 2012

Sonho Em Maio...Carta...Gabriel de Sousa


     SONHO EM MAIO 
Carta 
Gabriel de Sousa
Gostava de ser pássaro. Ter asas para ir além da imaginação. Um sonho, porém, pode tornar tudo possível. Elevei-me no ar. Atravessar o Oceano não deverá ser fácil. Poisei no mastro de vários navios que fui encontrando. Quando me sentia cansado, procurava outros, embora fazendo enormes desvios da rota que tinha traçado. Passaram-se dias. Talvez semanas. Finalmente vi terra.
Baixei ansioso. Para mim o Sol nascia. Em baixo ainda era noite. Atraiu-me uma janela aberta. Entrei, poisei, descansei e olhei ao redor. Espelhado na vidraça da janela, não era um pássaro que ali estava mas eu próprio.
Uma cama. Um lençol branco. Um único pé destapado. Beijei-o e ele escondeu-se, deslizando, sem sobressaltos.
Agora no outro extremo, descortino uma cabeça de mulher, de olhos cerrados, dormindo tranquilamente. Acaricio seus cabelos que me parecem seda.
Fechei ( também eu ) os olhos, e deixei-me ir ao acaso das sinuosidades daquele corpo. Beijei demoradamente os olhos. Procurei cuidadosamente as orelhas que percorri lentamente, para não a despertar. O corpo estava todo nu, também de maquilhagens e de preconceitos. Tudo natural. Apenas o embriagante cheiro de fêmea. Acariciei os seios, cujas pontas pouco a pouco se tornaram rígidas. Desci até ao umbigo, naquele momento o centro do meu Mundo.
Desci um pouco mais e, finalmente, senti umas mãos que carinhosamente me acariciavam a cabeça e pressionavam levemente. Deixei-me ir, resistindo um pouco, apenas para provocar o aumento da pressão. Jogo do gato e do rato.
Sobrevoei a gruta dos amores e voltei àqueles pezinhos ... (Agora reparo que disse «sobrevoei». Linguagem de pássaro ainda não me abandonou. Bom sinal, pois terei de regressar ...) Beijei-os com ternura. Chupei, um a um, todos os seus dedos. Voltei acima, roçando minha face pelas suas pernas. Atardei-me nos joelhos, suavemente...
A atracção por sítios mais íntimos levou-me de novo à aproximação do local de todos os segredos.
Quantos círculos, elipses, espirais desenhei. E tu, agarrando meus cabelos, com as duas mãos, meigamente. Como a querer ensinar-me o caminho. Por fim entrei no Paraíso e ensinaste-me a apreciar o gosto duma Mulher. Sabor a sal. Sabor a mar. Sabor natural. Sabor inexplicável com palavras.
Continuei, sentindo o movimento das tuas ancas, qual cobra dançando o samba mas muito devagarinho ( Como se fosse possível ! ). Olhos fechados. Tudo muito, muito lentamente, pois há momentos que deveriam ser eternos, momentos em que o mundo deveria parar.
De repente acordei com o sonho inacabado. Porque será que tudo o que é bom tem de ter fim? Eu bem fechei os olhos, tentando reatar ou começar tudo de novo. Nada consegui ... Ficou-me a solidão, o escuro e o vazio. Resta-me a possibilidade de conseguir contar o sonho ao objecto dos meus desejos.

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