quarta-feira, 25 de maio de 2011

Cansado(prosa poética) Jota Há

CANSADO
(prosa poética)
Jota Há
Estou cansado, eu confesso!
É claro... essa é a constituição do ser humano.
Por que a certa altura dos acontecimentos a gente tem que estar cansado? Nem que não esteja, mas... nós temos que aparentar estar cansado para não se diferenciar da espécie.
Portanto, nessa categoria da vida, dizer que está cansado é o que os semelhantes esperam de você – principalmente os jovens. Eles pretendem antecipar à natureza que é sábia e só elimina aqueles que não apresentam nenhuma probabilidade de reprodução. Anormalidade para eles, os jovens, está naqueles senhores e senhoras vigorosos.
Até parece que temem a concorrência.
Eu pergunto: de que estou cansado?
Que pergunta inútil, eu não sei e sei que vocês também não saberão responder. E o que isso me importa? Qual a vantagem de saber ou não saber? Estar cansado é o que quase exigem de você, e o que é pior, você assumiu, terá que aparentar pelo resto da sua vida, é uma posição assumida, sem retorno. Mesmo que você não esteja os outros dirão que você está aparentando.
Qualquer ferimento dói, não importa provocado por qual instrumento: foice, martelo, machado, e até as palavras com certas ideologias podem provocar muita dor. Portanto, a dor é a dor e não importa a causa que a produziu.
Já confessei! Estou cansado... Só que estou sorridente.
Vocês não notam o sorriso porque me taxaram de cansado, essa idéia fixa de vocês. O sorriso está implícito e não explícito. O passar do tempo nos ensina a sorrir para dentro como fazem os orientais. Com esse sorriso eu não estou sorrindo para vocês, eu estou rindo de vocês e dessa predisposição de cansado que vocês me impingiram.
Ele é só isso?...
Uma vontade de repouso para o adormecimento dos sentidos, desde que não seja o eterno? Nunca tive e ainda não tenho o desejo de pensar na alma. Não sei se faço parte da regra ou da exceção, mas... agora, mais do que nunca, possuo uma nitidez lúcida do entendimento das coisas transcorridas. E a pouca-vergonha única de não ter esperanças. Sem nenhuma modéstia, sei que sou inteligente: e isto me basta.
Acho que já vivi o bastante, e no transcorrer desse viver já vi muito, e desse muito aprendi o suficiente. É prazeroso dizer isso, porque a cabeça continua como há muitos e muitos anos passados. Há, porém, um outro lado da moeda.
E talvez esse lado, seja o verdadeiro inferno do ser humano.
O “Todo Poderoso”, para castigar o indivíduo conserva a sua lucidez até o fim, com aquele sadismo que Lhe é próprio, para que cada um assista a degradação da própria substância.

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