domingo, 8 de maio de 2011

Para minha mãe, pois era uma mulher sábia... É LINDO DEMAIS...

A minha Mãe lhe diziam louca,
mas não era louca, era professora.
Falava diferente.
Dizia: "Os olhos servem para escutar".
Eu tinha dez anos de idade
Um menino, não compreende a linguagem vertical
e pensava que quiçá minha mãe era louca.
Certa vez me armei de valor e lhe perguntei:
 Com que olhamos?
Minha mãe me respondeu:
 "Com o coração"
Quando minha mãe se levantava de bom humor cantava:
" Hoje  pus meu vestido de vinte anos".
Eu sabia que não tinha vinte anos e a olhava, nada mais.
Que pode fazer um menino, senão escutar?
 
Se minha mãe estava triste dizia estar vestida de nevoeiro.
 " Hoje tenho oitenta anos" -disse, quando desaprovei um curso.
Ao fim pude terminar a educação primária.
O dia da clausura chegou tarde.
Desculpou-se dizendo: "Hijito, demorei-me porque estive procurando
meu vestido de Primeira Comunhão,
Não vês meu vestido de Primeira Comunhão?".
Olhei a minha mãe
e não estava vestida de Primeira Comunhão.
Depois teve esse acidente fatal.
Chamou-me a seu lado,
pegou forte minhas mãos e disse:
 "Não tenhas pena, a morte não é para sempre" .  
 
Pensei: minha mãe não se dá conta do que fala.
Se um morre é para sempre.
 Era menino e não entendia suas palavras.
 
Agora tenho cinquenta anos e recém compreendo seus ensinos.
Sim, Mãe,
podemos ter 20 anos e ao dia seguinte oitenta.
 
Tudo depende de nosso estado de ânimo.
 Os olhos servem para escutar
porque devemos olhar com atendimento
a quem nos fala.
Para conhecer a realidade essencial de uma pessoa,
 temos que a olhar com o coração.
A morte não é para sempre,
 só morre o que se esquece
e a minha mãe a recordação porque a quero.
Agora -em sonhos falamos-
nos rimos de seu método de ensino.
Aprendi a olhar com o coração.
Uma noite me disse:
 
"Notei que te molestas
se teus amigos te dizem louco e isso não está bem.
 É natural que o filho de uma louca seja louco".
Então -pela primeira vez-
repliquei a minha mãe e lhe disse:
"Mãe, equivocas-te, não sempre o filho de uma louca
tem que ser louco; as vezes é poeta".
Por isso posso dizer com orgulho:
"A minha mãe lhe diziam louca, mas não era louca, era professora. 
Me ensinou a descobrir a vida depois da morte".
 
 
Max Dextre
Abril de 1936 - Marzo de 1998
Destacado poeta, periodista cultural e conferencista peruano
Tradução: Martita Dias

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