quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Poema Sem Solução - Jorge Filholini

Poema Sem Solução
Jorge Filholini
Eu queria atravessar a rua
Mas hesitei.
São os corpos no lugar de pedras no caminho
que não me deixam seguir adiante
dilacerados
ensangüentados
desmantelados
amargavam a vida levantando as mãos para um invisível perdão.
carpetes moribundos
formam rastros de sofri dão
Não sei se o Senhor concordaria de orar por voz de novo
Sem vastos devaneios
nem céticos devotos.
Fito nas retinas carniceiras
frágeis massacres pueris
raros sorrisos nos rostos embaçados
e seguelas de acepção

Sim, eu vi
o mundo saber e não ver
Sim, eu vi
o mundo sofrer e nunca correr

Então, sentei na sarjeta e chorei.
Lágrimas navalhas rasgavam os ombros
fatigados ombros sem mais encostos
mágoas jorrada das palmas um rubro impetuoso
obliterado, padeci.
Não posso continuar atravessando a rua
os carros nunca param
as pessoas nunca passam
as pessoas tiram vantagens
e não posso fazer nada
sou ímpeto a enxergar
leviana dor no peito desses.
Preferiria pedra à pular defunto
queria afago
dar passos largos
pisar no outro lado
passos de relento
para evitar ver isto
mas acabo estático com o desmantelar dessa crua... rua.

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