segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

O Milagre da Terra - Lêda Mello

O MILAGRE DA TERRA
Lêda Mello
Tarde preguiçosa de domingo.
A casa grande está quieta.
Da rede, na varanda, acerto o passo
no dorso das minhas cismas.
Olho o mundo ao meu redor.
Apuro a vista, vasculhando
cada pedacinho do meu sertão.


Volto no tempo. Neste mesmo lugar.
Na memória, a lembrança da terra sofrida.
Céu que, de tão azul, mais parece o mar.
Mar sem ondas, céu sem nuvens.
Limpo.
O ar, trêmulo, exala o calor que se desprende
das entranhas da mãe terra.
Terra seca, esturricada. Gritando a sua sede
pelos arbustos tostados pelo sol.
Gado magro, olho triste,
a fome e a sede à mostra no lombo de osso.
Sertanejo passa, pele curtida pelo sol,
olhar de tristeza, espia pro céu.
De verde, só a esperança!
Nem mesmo o passarinho arrisca um trinado.
Desolação.

Torno ao presente. Olho o céu.
Sol tímido de inverno farto, rasgando as fraldas
das nuvens pesadas de gotas de chuva.
O ar úmido, fresco, lavado,
puxando da terra o cheiro de mato.
Levanto da rede.
Descalça, caminho devagar, cuidadosamente,
sentindo sob os pés o inchaço
do ventre grávido da terra.
Terra molhada, mato verde...
Adiante, a fartura que explode
nas espigas de milho e nas ramas de feijão.
Terra que responde, por inteiro,
aos mimos e graças da mãe natureza.
Mundão de água.
Gado gordo, ruminando no pasto,
mostrando a saciedade
no lombo cheio, de pêlo lustroso.
Sertanejo passa, olhar satisfeito, espia pro céu.
A vida renasceu.
Passarinho canta, saracura responde..
É festa de vida, nas profundezas do sertão!

Arapiraca (AL) - Brasil
= = =

Nenhum comentário:

Postar um comentário