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Perdoa
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Perdoa-me por tornar-me seca
Por não aplaudir cenas dantescas
Por tornar-me quarta-feira de cinzas
Enquanto se enfeitavas com máscaras
sem haver carnaval
Perdoa-me
Pela mendicância amorosa
Por repartir o pão em vida
Por erguer a mão ainda que ferida
Por entregar calejado coração
Com ombros de afeição
Perdoa-me
Por estar terra árida
Por não semear cactos
Pelas floradas antes existidas
Pelo lar iluminado, hoje, luzes apagadas
Pelos frescos ar juvenil
Agora um tanto senil
Perdoa-me
Por retroceder os passos
Por estar em descompasso
Andar ao largo do compasso
Enfurnada no meu antigo mundo
Perdoa-me
Pelas cicatrizes abertas
Por ainda chorar meu chão
Pelas muralhas erguidas
Por tentar não mais ser, por flexas atingida
Perdoa-me
Pelas dores causadas
Pelas culpas impostas
Por não ser mais piedosa
Do que fui outrora
Perdoa-me
Por não ser filha pródiga
Por sorver o fel da vida
Quem por longo tempo carinho esmolou
Perdoa
Por não saber mais perdoar
Quem pela estrada pedregosa
Só quis longamente fazer minha alma chorar
Perdoa
Por não ser forte
Pela prole nobre
Pelos erros cometidos
Pelos sentimentos incontidos
Por amar demasiado
Os que, em ilusão, pensara
Ser meu ancoradouro seguro porto
Perdoa-me
Por não regatear amor
Não ser mercadoria de troca
Por não ser mercantilista
Por não pertencer a alta casta
Mas, não sou pobre na alma
Perdão
Por não ser forte caixa
Por manter meu perfil antigo
Sem meandros submersos
Tremulando pelos ocorridos
Procurando salva guardar
Meu honrado nome
Perdão
Pelo que não sou
Por querer uma família unida
Sem guerras surgidas do nada
Sem unhas afiadas
Sem apunhaladas
Sem palavras mortais
Sem queixos erguidos
Sem empunhar revoltas
Sem esmolar amor
Mas, o amor ter pleno valor
Perdoa
Por pedir demais
A quem nada teve jamais
Perdão...
Maria Kátia Saldanha
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