sábado, 21 de setembro de 2013

Cismar...Álvares de Azevedo

Cismar
Fala-me, anjo de luz! és glorioso 
À minha vista na janela à noite, 
Como divino alado mensageiro 
Ao ebrioso olhar dos froixos olhos 
Do homem que se ajoelha para vê-lo, 
Quando resvala em preguiçosas nuvens 
Ou navega no seio do ar da noite. 
Romeu Ai! Quando de noite, sozinha à janela, 
Co'a face na mão te vejo ao luar, 
Por que, suspirando, tu sonhas donzela? 
A noite vai bela, 
E a vista desmaia 
Ao longe na praia 
Do mar! 
Por quem essa lágrima orvalha-te os dedos, 
Como água da chuva cheiroso jasmim? 
Na cisma que anjinho te conta segredos? 
Que pálidos medos? 
Suave morena, 
Acaso tens pena 
De mim? 
Donzela sombria, na brisa não sentes 
A dor que um suspiro em meus lábios tremeu? 
E a noite, que inspira no seio dos entes 
Os sonhos ardentes, 
Não diz-te que a voz 
Que fala-te a sós 
Sou eu? 
Acorda! Não durmas da cisma no véu! 
Amemos, vivamos, que amor é sonhar! 
Um beijo, donzela! Não ouves? 
No céu A brisa gemeu... 
As vagas murmuram... 
As folhas sussurram: Amar!

Álvares de Azevedo

Nenhum comentário:

Postar um comentário