sexta-feira, 19 de abril de 2013

A Morte do Poema...Tito Olívio

A MORTE DO POEMA
Meu poema jaz ali na pedra fria.
Descansa em paz!... Agora terminou
O longo sofrimento da agonia.
O meu único irmão... e se finou...
Na nave escura, tecto abobadado,
Pilares com recorte rendilhado
São fantasmas vestidos de brancura.
Nos altares dos santos tremeluz
Quente suor das velas feito luz,
Caindo sem ruído, com brandura.

Ninguém te trouxe flores. Não. Ninguém...
Sobre o teu corpo, vindo dos vitrais,
Um raio colorido se mantém,
Mas é o sol filtrado. Nada mais.
Só eu e ele tens por companheiros
Nestes tristes momentos derradeiros.
Não ponhas na saudade a esperança,
Que as juras que se fazem são mentira!
Mesmo depois de morto, há quem te fira
E a asa da indiferença nos alcança... 

Tudo é sereno e mudo. Tudo é quedo.
Pesa o silêncio sobre a catedral.
Trémulos, os anjinhos sentem medo
E espreitam o vazio cadeiral.
Nossa Senhora, no arco do altar-mor,
Mostra nas sete espadas sua dor.
Nem o soturno vento por lá passa,
Silvando pelas frinchas do telhado...
Lá dentro, o tempo está como parado,
No respeito devido a tal desgraça.

E eu pedi que viesse um vendaval
Para abrandar meu grande sofrimento.
Tornasse o adro a chuva um pantanal,
Repicassem os sinos com o vento...
Voasse do telhado a telha velha
- essa telha que em nova foi vermelha
E se cobriu de musgo, esverdeou... -
Caíssem raios como gotas de água...
Sofresse a Natureza a minha mágoa
Para sentir a dor que me ficou!...

Deus não me ouviu... e foi melhor assim,
Que a dor dos outros não abafa a minha!
Rezem-te os anjos suave ladaínha
E guardem-me este fel só para mim!...

Tito Olívio

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