terça-feira, 19 de março de 2013

Ingratidão...Tito Olívio

INGRATIDÃO

Quando o raio cortou a noite escura,
Desflorando a dor de tantos medos,
Girava a minha luz em vã procura
Para afugentar os barcos dos rochedos.
A tua barca branca, solitária,
Zurzida pelas vagas da procela,
Trazia rota a proa mercenária
Do vento da desgraça e solta a vela.
A luz do meu farol foi um aviso
E fosse só por sorte ou por mestria
Guinaste para a praia, duro piso,
E ali ficaste, exausta, até ser dia.
Beijei os teus cabelos noite fora,
Irmão da tua dor, tua desdita,
Sentindo que acalmavas, hora a hora,
E te dava o que a mágoa necessita.
Veio a manhã radiosa, resplendente,
Na bonança que segue a tempestade.
Olhaste então o céu... E no silente
Mar voltaste a sonhar a liberdade.
Rumaste ao horizonte indefinido
A bússola nos olhos, pachorrenta,
O lindo rosto aberto, em sal curtido,
Em busca de um ocaso de magenta.
Foste-te embora assim, aura de sonho,
Nas dobras do desdém, na dor agreste
Que vestiu o farol, triste, bisonho...
Partiste assim... e nem adeus disseste!... 
 


Tito Olívio

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