quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Natal - Vinícius de Moraes

Natal
Vinícius de Moraes
De repente o sol raiou
E o galo cocoricou:
- Cristo nasceu!

O boi, no campo perdido
Soltou um longo mugido:
- Aonde? Aonde?

Com seu balido tremido
Ligeiro diz o cordeiro:
- Em Belém! Em Belém!

Eis senão quando, num zurro
Se ouve a risada do burro:
- Foi sim que eu estava lá!

E o papagaio que é gira
Pôs-se a falar: – É mentira!

Os bichos de pena, em bando
Reclamaram protestando.

O pombal todo arrulhava:
- Cruz credo! Cruz credo!

Brava
A arara a gritar começa:
- Mentira! Arara. Ora essa!

- Cristo nasceu! canta o galo.
- Aonde? pergunta o boi.
- Num estábulo! – o cavalo
Contente rincha onde foi.

Bale o cordeiro também:
- Em Belém! Mé! Em Belém!

E os bichos todos pegaram
O papagaio caturra
E de raiva lhe aplicaram
Uma grandíssima surra.

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