segunda-feira, 27 de setembro de 2010

OBRAS PRIMAS DE HOJE!

Amoedo, Rodolfo
Cena de Café , s.d.
22,8 x 28,2 cm
Museu Nacional de Belas Artes (Rio de Janeiro, RJ)
Reprodução fotográfica autoria desconhecida

Amoedo, Rodolfo (1857 - 1941)
Amoedo, Rodolfo
Menino com Barco , s.d.
pastel sobre tela
52 x 63
Museu Nacional de Belas Artes (Rio de Janeiro, RJ)
Reprodução fotográfica autoria desconhecida

Amoedo, Rodolfo
Retrato de Senhora , ca. 1905
bico de pena e nanquim sobre papel, c.i.d.
28 x 36,2 cm
Museu Nacional de Belas Artes (Rio de Janeiro, RJ)
Reprodução fotográfica autoria desconhecida

Comentátio Crítico
O pintor Rodolfo Amoedo é um dos responsáveis pela renovação no ensino e na estética acadêmica da Escola Nacional de Belas Artes - Enba, no fim do século XIX. Apesar de ter uma visão essencialmente tradicionalista da pintura, o artista foi um dos introdutores de correntes artísticas que atualizaram a arte acadêmica, trazendo para o país um realismo burguês menos idealizado nos temas e no tratamento do que nas correntes neoclássicas e românticas predominantes no Brasil até então. No entanto, é visto como um artista ambíguo, que ao mesmo tempo renova e faz a defesa intransigente dos velhos padrões. O crítico e historiador Tadeu Chiarelli diz que "Amoedo surge indeciso entre o papel de herdeiro do academicismo local e aquele de introdutor do realismo burguês (...) curiosamente o artista consegue transformar o seu realismo inicial no único herdeiro possível e intransigente da arte tradicional no país, única sentinela eficaz contra os avanços das vanguardas vindas da Europa".1
O artista tem origem controversa. Alguns dizem que nasce em Salvador, outros contam que é natural do Rio de Janeiro. É certo que vive parte de sua infância na Bahia, possivelmente dos 6 aos 11 anos. Segundo o historiador Quirino Campofiorito (1902 - 1993), os pais de Amoedo são artistas de teatro.2 Ele vive sem luxo, em meio a dificuldades financeiras. Muda-se para o Rio de Janeiro em 1868. É admitido no Colégio Pedro II e permanece lá por algum tempo. A falta de dinheiro impede que conclua o curso. Depois disso, o artista trabalha como assistente do pintor-letrista Albino Gonçalves. Só com 16 anos volta a estudar. Ingressa no Liceu de Artes e Ofícios e tem aulas com Costa Miranda (1818 - s.d.), Victor Meirelles (1832 - 1903) e Antônio de Souza Lobo (1840 - 1909), que se torna o seu protetor.
Graças ao apoio desse professor, Amoedo torna-se aluno da Academia Imperial de Belas Artes - Aiba, onde continua a estudar com Victor Meirelles, além de ter aulas com Zeferino da Costa (1840 - 1915), Agostinho da Motta (1824 - 1878) (que o influenciam muito) e Chaves Pinheiro (1822 - 1884). Em 1878 recebe o prêmio de viagem ao exterior da Aiba, por sua tela Sacrifício de Abel. Em 1879, parte para Paris e seguindo conselho de Almeida Júnior (1850 - 1899) matricula-se na Académie Julian. No ano seguinte ingressa na École National des Beaux-Arts, onde freqüenta as aulas de Alexandre Cabanel (1823 - 1889), Paul Baudry (1828 - 1886) e Pierre Puvis de Chavannes (1824 - 1898). Com eles, aprende a usar cores discretas e a pintar com base em um desenho meticuloso, objetivista. Ambas características estarão presentes em sua obra. Nesse período, Amoedo pinta temas tradicionais da academia, buscando retirar a sua carga idealista. Realiza pinturas indigenistas importantes como Marabá (1882) e Último Tamoio (1883). É um momento áureo de sua criatividade. Faz retratos, como em Amuada (1882); nu feminino, como em Dorso de Mulher (1881) e na polêmica Estudo de Mulher (1884); e cenas bíblicas, como A Partida de Jacó (1884) e Jesus em Kafarnaum (1885).
Em 1887, volta ao Rio de Janeiro, onde é nomeado professor de pintura da Aiba. A influência do ambiente acadêmico francês se faz notar tanto em suas concepções estéticas quanto pedagógicas. Seu trabalho se afasta do tom triunfante da pintura oficial da Academia, procurando um tratamento mais discreto, objetivo, que o distancie de temas mitificados. Suas discordâncias dos métodos de ensino da Aiba são expressas em 1888, quando junto com os irmãos Henrique Bernardelli (1858 - 1936) e Rodolfo Bernardelli (1852 - 1931), Souza Lobo e Zeferino Costa, funda o Ateliê Livre, espaço paralelo de ensino e trabalho de arte, onde os artistas procuram chamar a atenção para a defasagem do ensino acadêmico. Propõem uma modernização curricular, tendo como modelo a Académie Julian.
Em 1889, com a proclamação da República, o grupo é reconhecido e conquista a diretoria da Escola Nacional de Belas Artes - Enba, antiga Aiba. No novo regime político, Amoedo se torna vice-diretor da Escola, trabalhando com muita dedicação. Tanto na pintura quanto no ensino tem preocupação crescente com as questões técnicas, do métier deixando em segundo plano os temas. Amoedo preocupa-se com a correção do desenho e a suavidade da cor, obedecendo às normas tradicionais de composição. Como professor, ensina com a mesma rigidez. Indica onde as cores devem ser distribuídas na paleta e é rígido com questões da técnica pictórica. Boa parte dos artistas formados pela Enba passa por suas mãos, como Baptista da Costa (1865 - 1926), Eliseu Visconti (1866 - 1944), Candido Portinari (1903 - 1962), Eugênio Latour (1874 - 1942), João Timótheo da Costa (1879 - 1930), Rodolfo Chambelland (1879 - 1967), Carlos Chambelland (1884 - 1950) e Alfredo Galvão (1900 - s.d.).
Amoedo ocupa o cargo de vice-diretor da Enba em 1893 e em 1896. Em 1906, se desentende com o diretor, Rodolfo Bernardelli, e parte para a Europa, afastando-se da Escola até 1918, ano em que re-assume a cadeira de professor ocupando-a até a sua aposentadoria, em 1934. Em 1909, pinta o teto da Sala de Sessão do Supremo Tribunal Federal; um ano depois, faz painéis para a seção de livros raros da Biblioteca Nacional e, em 1916, decora o Theatro Municipal. O artista falece no dia 31 de maio de 1941, com 83 anos de idade. Neste momento, é reconhecido como um dos grandes nomes da arte acadêmica brasileira. Um ano após o seu falecimento, a viúva do artista doa parte do seu acervo para o Museu Nacional de Belas Artes - MNBA. Nos limites do realismo acadêmico poucos artistas se mostraram tão sensíveis à captação da subjetividade burguesa, sobretudo em retratos e cenas de gênero.

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