sábado, 10 de agosto de 2013

Versos a um cão... Augusto dos Anjos

Versos a um cão
Que força pôde adstrita e embriões informes,
Tua garganta estúpida arrancar
Do segredo da célula ovular
Para latir nas solidões enormes?!

Esta obnóxia inconsciência, em que tu dormes,
Suficientíssima é, para provar
A incógnita alma, avoenga e elementar
Dos teus antepassados vermiformes.

Cão! - Alma de inferior rapsodo errante!
Resigna-a, ampara-a, arrima-a, afaga-a, acode-a
A escala dos latidos ancestrais...

E irás assim, pelos séculos, adiante, 
Latindo a esquisitíssima prosódia 
Da angustia hereditária dos teus pais!

Augusto dos Anjos

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