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Sou Maria |
Sou Maria
Sou nua
Sou crua
Tez morena, de seda
Olhos castanhos de vida
Face comum, passageira de rua
Crueza despida
Um beco
Uma estrada
Com lume
Via, encruzilhada
Tomo prumo
Pego a reta
Sem desvio
Tomo as rédeas
Que foram usurpadas
Um rio
Um oceano
Cargueiro a navegar
Solto velas a levar
Cabelos claros, brisa a viajar
Assumo timão
Frota solitária em alto mar
Comboio
Sem vagão
Sem trilhos, sem dormentes
Só ferros em coração
No trem há solidão
Um corpo, um porto
Por um tempo essencial
Hoje...portas trancadas
Avisos: Não existe vagas
Frestas já lacradas
Um jogo
Sem escudo
Um fosso difuso
Nas mãos uma foice
Corte profundo
Cravejada mágoa
De quem pensou ser amada
Um dedo em riste
Julgamento triste
Juiz sem toga
Lançou passado
Lacrou escritura
Apagou a luz
Bateu a porta
Foi embora
Palavras ásperas
Do que nada sabe
Ou pensa saber
Um vazio profano
Abandono diverso
Inválido amor fraterno
Alma ferida
Sorriso entristecido
Nada resta
De quem ontem era
Um pássaro
Uma fênix
Tentando ressuscitar
Das cinzas cria brasa
Uma fogueira a bracejar
Uma flor
Uma folha
Um leve bailar
Uma moça
Uma menina
Sem vida gerenciar
Sou pouso
Sou repouso
Uma rede a balançar
Sou Maria arquipélago
Kátia, ilha, insólita
Saldanha orgulhosa
Baiana em prosa
Que samba sem verso
Em roda complexa
Sou eu
Maria Kátia nascida
Especial, singular?
Obtusa, sem especular
Sou Maria...simplória
Maria qualquer
Sou, minhas Marias destribuidas
Em mim repartidas
Sem cetro sem coroa
Sou aquela Maria
Que a vida não viveu
Passou e sofreu
Beijos dispersos recebeu
E o sorriso de Maria morreu!
Maria Kátia Saldanha
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